sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

O multilateralismo definha...

Estava lendo as notícias internacionais dos últimos dias e percebi que a Síria continua sob os holofotes, ainda que com um brilho cada vez menor. O fracasso de qualquer ação internacional naquela região somente comprova como o multilateralismo definha paulatinamente.

A invasão do Iraque pelos Estados Unidos foi um duro golpe. A continuação da guerra por quase uma década era um lembrete diário daquela mancha na Carta da ONU. Com a Primavera Árabe, uma nova oportunidade surgiu para reerguer o sistema multilateral.

Os países negociaram no Conselho de Segurança e chegaram a uma resolução que, se não agradava, pelo menos não melindrava nenhum país. Criou-se, assim, uma zona de exclusão aérea na Líbia. Entretanto, logo esse mandato foi interpretado expansivamente pelos países da OTAN e o que vimos foi o apoio irrestrito à oposição e o linchamento público de Gaddafi.

Agora alguns países querem novamente uma resolução para intervir na Síria. Não sou contra uma intervenção, aliás considero necessária e urgente. Entretanto, não se pode aceitar novamente o uso irrestrito da força, baseado em uma interpretação expandida de resolução. Assim, há um impasse fundamental entre nações, baseado na falta de confiança mútua.

Esse é o mesmo desafio da Rodada Doha. Depois de anos de imposição de acordos favoráveis majoritariamente aos países desenvolvidos, os países em desenvolvimento simplesmente se uniram e decidiram que ou teríamos um acordo justo ou não teríamos nada. Os países tradicionais ainda não se acostumaram com essa ideia e a Rodada continua parada.

Travadas também estão as negociações Israel-Palestina. Essas, desde a sua origem, já comprovam as limitações do multilateralismo global. Ao invés de ser o órgão internacional legitimado para manter a paz e a segurança mundiais (leia-se CS/ONU) o mediador dessa disputa, resiste um Quarteto (EUA, Rússia, União Europeia e ONU) que não conta mais com a confiança de nenhum dos lados.

Somente no âmbito dos acordos climáticos parece haver avanços. Note-se que somente se avançou no segundo período do Protocolo de Quioto quando os países em desenvolvimento assumiram também compromissos vinculantes de redução de suas emissões, ainda que estas representem uma ínfima parte das emissões históricas que culminaram no atual aquecimento global. Não sei isso é uma vitória ou uma derrota.

Poderia continuar a apresentar mais exemplos de onde o multilateralismo fracassa, como nos regimes financeiro e nuclear, mas está me batendo uma depressão. Fala-se tanto em expandir a democracia nos países, mas não se discute a expansão da democracia no mundo.


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